10 de março de 2016

Afinal, o que nós queremos?


Na última terça-feira, 8 de março, foi comemorado o Dia Internacional da Mulher, e a hashtag #NãoQueremosFlores viralizou.
Várias mulheres publicaram seus tweets, chamando a atenção mais uma vez para a necessidade de respeito aos direitos femininos, e como sempre acontece, muita gente meteu os pés pelas mãos e começou a falar besteira, um mimimi sem fim sobre como o que nós, mulheres, estávamos e estamos fazendo é um grande mimimi. Agora, eu pergunto: mimimi para quem? 

Recentemente, em uma conversa muito da despretensiosa no meio da sala de aula, eu e uma amiga recebemos um olhar, e algumas palavras de desapontamento de um colega de classe ao afirmarmos ser feministas. Sem desrespeito, sem indelicadeza, apenas aquele olhar e aquela cara de "não entendo para que isso". O pequeno intervalo entre as aulas terminou, e o assunto foi esquecido, pelo menos naquele momento. 
O negócio é que depois desse dia, eu percebi, eu enxerguei, tive uma experiência própria ao ponto de ver claramente porque muita gente diz que o feminismo é desnecessário; que valorizar tudo isso, essa luta, que usar cada oportunidade que temos para dar um passo a frente na batalha pelos nossos direitos é pura perda de tempo. 
O que causa essa opinião, esse descaso, essa indiferença, essa falta de companheirismo em relação ao que estamos tentando fazer é uma coisa só: a falta de alteridade. 
Para você, querido colega que andou faltando as aulas de filosofia, alteridade é exatamente isso: se colocar no lugar do outro. É muito fácil para você não entender algo, quando não passou por uma experiência parecida e não se coloca no lugar do próximo. Esse é o maior motivo da indiferença, do individualismo, da cegueira quando a questão não é algo que te envolve. Esse é o maior motivo da desunião entre as pessoas. 
O meu colega de classe é um menino, ele não entende o que é ter barreiras impostas só por ser uma garota, o que é receber olhares estranhos na rua, palavras indelicadas de familiares por causa de comportamentos completamente naturais, o que é ter medo de andar por aí, não só porque o Brasil não é um país mestre em segurança, mas também por causa de seu sexo.
Por esse motivo, por essa cegueira em relação aos problemas alheios, digo que temos sim, irmãs mulheres, que dizer alto, e cada vez mais alto o que queremos.
Nós queremos respeito, nós queremos igualdade, nós queremos justiça. Nós queremos não ser julgadas simplesmente por ter cromossomos XX ao invés de XY; nós queremos ser aceitas como somos, independentemente da forma dos nossos corpos; nós queremos a liberdade de usar as roupas, a quantidade de maquiagem que quisermos, sem sermos julgadas, assediadas, criticadas, expostas, xingadas, nomeadas, classificadas, ofendidas por isso; queremos ter o direito de exercer nossa sexualidade sem sermos chamadas de "putas" ou "vadias", queremos uma sociedade que não trate a sexualidade feminina como tabu, que dê um fim a esse estudo da sexualidade completamente voltado para os homens, para o prazer e a total comodidade masculina; queremos ter o direito de competir de igual para igual quando se fala de emprego, queremos ganhar salários igualitários, queremos uma sociedade que admita que mulheres são tão capazes de qualquer coisa quanto os homens, queremos ser reconhecidas; queremos que o descaso contra crimes contra as mulheres, principalmente os sexuais, seja extinto; queremos ser inseridas em todos os contextos sociais sem nenhuma barreira criada somente porque somos mulheres; queremos o direito de ter a nossa voz ouvida. 

Quando a hashtag #NãoQueremosFlores foi lançada, muitos homens fizeram questionamentos, falando que isso era só uma forma de tornar o mundo mais frio, onde formas sinceras de carinho não deveriam ser feitas. Querido amigo, veja as coisas de forma correta.
Se você, Sr. homem de bem, trata sua namorada, sua amiguinha, a mulher desconhecida que você vê na rua, direitinho, com respeito, com educação; ótimo. Dê sua flor para ela, preste sua homenagem. Mas, não venha me dizendo que não existe gente hipócrita que dificulta a vida da mulher 364 dias por ano, e  no dia 8 de março, da os parabéns e a rosa para cada mulher que vê.
Essa hashtag não é, não foi sobre não ter presentes fofos no dia da mulher, foi sobre prioridades. Foi sobre ser muito mais importante respeitar os direitos da mulher 365 dias por ano, do que dar flores em um dia; foi sobre o fato de não adiantar nada glorificar e presentear as mulheres durante um dia do ano, para depois tratá-la como se fosse lixo; foi sobre não tapar o sol com a peneira dando uma rosa, quando nos outros momentos só se tem os espinhos. Foi, acima de tudo, sobre a necessidade de enxergar a mulher como digna, como importante, como capaz, como igual, como reconhecida em todos dias do ano, e não só no dia oito de março.
Embora eu saiba e reconheça a importância da data, o fato que levou a data a ser comemorada, aposto que a maioria das mulheres não ligaria se esse dia não existisse, mas se houvesse respeito em todos os outros.
#NãoQueremosFlores não é sobre não querer presentes, mas sim sobre querer muito mais do que isso, muito antes de querer flores.

Então, querido amigo homem, não nos dê flores, ou melhor, nos dê flores sim, mas antes disso, nos dê respeito, nos dê igualdade, nos dê dignidade. Nos dê o que queremos, nos dê o que acima de tudo, merecemos.

Um comentário:

  1. Que texto maravilhoso! <3

    Queremos respeito, e se estamos deixando as pessoas incomodadas com o nosso feminismo, ativismo e tentativas de mudanças pra um mundo mais justo, estamos no caminho certo! E vamos conseguir cada vez mais justiça!

    Que foda ter alguém como você lutando por um mundo melhor. Vamos juntas <3

    Beijo!

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